Louriçal
História
A sua primeira referência surge no foral outorgado por D. Afonso Henriques a Leiria, no ano de 1142. A criação da freguesia remonta aos primórdios da nacionalidade, já no século XII. O couto do Louriçal foi concedido por D. Afonso Henriques ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em 1166. O rei D. Manuel I atribuiu-lhe foral a 23 de Agosto de 1514.
Nos séculos XVII e XVIII teve um grande desenvolvimento, muito graças às diligências tomadas por algumas famílias nobres de importância, como os Almeida Castelo Branco e os Menezes.
No século XVII foi fundado o monumental Convento do Desagravo do Santíssimo Sacramento por parte de uma jovem freira, de seu nome Madre Maria do Lado que aqui se instalou com as suas companheiras. Dois anos antes da morte da fundadora, em 1630, fundou-se ainda o Recolhimento das Terceiras Professas da Ordem da Penitência de São Francisco.
Foi no auge da história do Convento, no século XVIII, que o rei D. João V encarregou Frei Manuel Pereira de resolver o problema de falta de água para o seu abastecimento. O aqueduto de condução das águas, segundo a planta deste arquitecto, ainda hoje se conserva, sendo um dos pontos de interesse do Louriçal, correndo a água pelo interior do aqueduto, desde a mina até à cerca do Convento. O aqueduto em 2014 foi alvo de uma reabilitação.
O Louriçal deixou de pertencer à comarca de Coimbra em 1836 para ser integrado na comarca de Pombal. Em 24 de outubro de 1855 deixou de ser sede de concelho, que passou para Pombal.

Património e Cultura
De entre o património da freguesia, relevam, por serem monumentos classificados, a Igreja e Convento do Desagravo do Santíssimo Sacramento, o Pelourinho do Louriçal e a Capela da Misericórdia.
Há, contudo, ainda a referir a Igreja Matriz de São Tiago, situada no Largo Prior Campos, que data do século XVII, apresentando alguns traços manuelinos, apresentando exteriormente um portal cingido de pináculos rematados em fogaréus. No interior tem uma única nave revestida com silhar de azulejos setecentistas. O retábulo principal, encimado pelo símbolo do Santíssimo Sacramento, representa São Tiago, o patrono desta freguesia, em pintura de tela.
A Capela do Recolhimento, na Rua Capitão Cadete/Praça Joaquim da Silva Cardoso data de finais do século XVII e inícios do século XVIII, pertencendo originalmente ao Recolhimento da Ordem Terceira Carmelita, fundado por D. Francisca Inês de Oliveira, em 1733. Mais tarde foi transformado em convento de Ursulinas pelo Padre Jacinto António Crespo. A Comunidade terá sido extinta pela morte da última religiosa. No arco real pode ver-se o escudo da fundadora: três estrelas douradas sobre fundo branco, ladeado por volutas e encimado por uma coroa. Conserva uma tela inédita do pintor italiano Pascoal Parente, datada de 1777.
De interesse para quem esteja de passagem é, ainda, o parque de merendas de Fonte da Pedra.
Em termos de actividades económicas tradicionais, a freguesia ainda realiza a moagem artesanal dos cereais, além de produtos artesanais de tecelagem e bordados.

A nível gastronómico há a referir os pastéis do Louriçal (com amêndoa), os biscoitos do Louriçal (talvez com origem conventual, sem açúcar e ideais para acompanhar bebidas quentes), o cozido “à nossa moda” (tradicionalmente servido no Carnaval, com carne de porco), carneiro cozido em vinho branco e Leitoa do Louriçal e sopa com couves migadas e feijão frade. O pão da região também é muito apreciado.
Monumentos
Pelourinho
Construído nos séculos XVI-XVII, de soco quadrangular sobre o qual assenta uma coluna de base octogonal.

Igreja Paroquial de S. Tiago
De fundação Manuelina, apresenta exteriormente um portal cingido de pináculos rematados em fogaréus.
Igreja da Misericórdia
De frontaria com empena angular rematada por uma cruz rosada de três óculos.
Igreja do Convento do Louriçal
Templo de uma só nave coberto com teto abulado e pintado com um grande painel central. As paredes são revestidas com azulejos barrocos. De assinalar os retábulos lavrados em mármore lisbonense.

Convento do Santíssimo Sacramento
De estilo Barroco, o coro é alto com teto de abóbada abatida e abulada, com ornatos dourados em relevo e as pinturas em tons escuros.
Capela Relicário
Raro exemplo de oratório joanino, de traça octogonal, teto copelado e sete altares relicários.

Aqueduto de Águas do Sec. XVIII
Aqueduto percorrendo uma extensão de 350 m., composto por 35 arcos de volta perfeita, em alvenaria de pedra, com aduelas em tijolo, suportado por pegões de planta quadrangular. O troço de 28 arcos visível nos terrenos agrícolas tem estrutura sustentando os canos, protegidos por paredes de alvenaria argamassada, com cobertura em meia cana; o troço final, de 7 arcos, atravessa a vila e encontra-se integrado na estrutura dos edifícios, apresentando paramentos rebocados e pintados terminando no convento sobre um arco.
O aqueduto alimentava um chafariz público localizado na Rua do Castelo, com parte das águas captadas na nascente do Pomar, bem próxima da povoação. Este chafariz outrora foi pertença do Mosteiro e situava-se no quintal das Hospedarias do mesmo. A responsabilidade do projeto, deve-se ao Padre Manuel Pereira, especialista em estudos e levantamentos de arquitetura, a quem D. João V confiou a condução dos trabalhos e reconheceu grande capacidade técnica na execução do referido aqueduto, como nos demonstra o seguinte relato: “Mandou então ao Louriçal o Irmão Manoel Pereira, desta Congregação, que era insigne na Arte da Arquitectura, e de quem Sua Majestade se fiava, encarregando-lhe todas as suas Reaes obras, como lhe tinha encarregado a planta, e medição desta (…) A experiência que o Arquitecto tinha do que é Communidade, foi grande circunstancia para encaminhar a agua de maneira que sem trabalho das Religiosas, pudessem usar della em todas as officinas; e concluído este intento, voltou à corte, aonde deo conta a S. Magestade do que tinha obrado, do que o dito Senhor se deo por satisfeito”.
